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Cautela financeira em tempos de incertezas no mundo

  • 09/05/2025



     

    Cautela financeira em tempos de incertezas no mundo

     

    As recentes reuniões da política monetária, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, seguiram o roteiro esperado pelos mercados, mesmo em meio à crescente instabilidade provocada pelas declarações erráticas do presidente norte-americano, Donald Trump.

    No cenário doméstico, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual (p.p.), quebrando uma sequência de altas de 1 p.p. e sinalizando que o ciclo de aperto pode estar se aproximando do fim. Com isso, a Selic alcança 14,75% ao ano (a.a). Já nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED) optou por manter os juros na faixa entre 4,25% e 4,5%, em linha com as expectativas dos agentes econômicos.

    Em ambos os países, predominou-se uma postura conservadora — estratégia compreensível diante do ambiente internacional volátil, agravado pela condução imprevisível da política econômica estadunidense. As constantes mudanças de posicionamento de Trump estão corroendo a confiança global, em uma economia historicamente reconhecida por sua estabilidade institucional. Esse padrão de comportamento — em que anúncios são desmentidos e, posteriormente, reafirmados — dificulta prever os desdobramentos econômicos das ações do governo dos Estados Unidos, bem como as eventuais respostas de outros países às suas políticas comerciais.

    A fala do presidente do FED, Jerome Powell, após a decisão de manter os juros, ilustra bem esse cenário. Ele reconheceu as dúvidas causadas pela guerra comercial e alertou que, caso as tarifas impostas sejam mantidas por um período prolongado, podem gerar pressões inflacionárias. No entanto, afirmou que o FED está preparado para reagir. Powell também precisou responder às declarações do governo norte-americano acerca de uma possível demissão sua, reforçando a independência da autoridade monetária frente a essas especulações. 

    Nos Estados Unidos, apesar dos sinais pontuais de desaceleração, a economia permanece aquecida. O mercado de trabalho opera acima do pleno emprego e o núcleo da inflação continua bem acima da meta, o que mantém o FED em alerta. Já no Brasil, os indicadores mais recentes apontam para uma desaceleração da atividade econômica e sugerem que a conjuntura de pressão monetária pode estar com os dias contados. Na reunião anterior, o Banco Central (BC) já havia indicado uma redução no ritmo das elevações da taxa de juros, o que reforça a previsibilidade e contribui para a estabilidade econômica, amenizando as reações dos mercados a possíveis surpresas.

    Ainda assim, a decisão de manter a elevação da Selic foi sustentada por preocupações com a inflação, principalmente nos serviços intensivos em mão de obra, cuja média móvel anualizada segue em torno de 6%. Os serviços subjacentes registraram alta de 0,65% em março, índice que o Copom considera sensível à demanda. O mercado de trabalho brasileiro também sustenta a política financeira atual, com uma taxa de desemprego de 7% e a criação de quase 250 mil novas vagas formais em março, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados no Brasil (Caged). Outro fator de peso é a questão fiscal. O desequilíbrio das contas públicas e a ausência de ações mais firmes por parte do governo em direção a um ajuste fiscal sustentado dificultam qualquer possibilidade de alívio imediato nos juros.

    Se a situação se mantiver estável até a próxima reunião, há expectativa de encerramento do ciclo de alta, com a inflação em trajetória de convergência e os efeitos das altas anteriores ainda repercutindo na economia. No entanto, como destacou o próprio FED, o grande obstáculo é decifrar os próximos passos do governo ianque. Diante disso, a cautela adotada pelos bancos centrais torna-se não apenas estratégica, mas praticamente obrigatória.

    Fonte: Contábeis


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